In-ter-dis-ci-pli-na-ri-da-de. A palavra é comprida e, para a maioria, indecifrável. É talvez o mistério que faz essa ideia ser tão sedutora. Escolas se esforçam em criar projetos interdisciplinares, universidades se alvoroçam para criar grupos de estudo com especialistas nas diversas áreas do conhecimento e o mercado exige um profissional multidisciplinar, multitarefa. Porém, uma das expoentes da pesquisa da interdisciplinaridade no país, Ivani Fazenda, faz um alerta: "Muitos dizem que fazem (projetos interdisciplinares), mas pouco os fazem de forma consciente", avisa.
Para ela, qualquer trabalho do gênero deve ir muito além de misturar intuitivamente geografia e química, matemática e português. O que é ser interdisciplinar, então? "É tentar formar alguém a partir de tudo o que você já estudou em sua vida", define. O objetivo dessa metodologia, em sua opinião, também é bem mais profundo do que procurar interconexões entre as diversas disciplinas. Ela serve para "dar visibilidade e movimento ao talento escondido que existe em cada um de nós".
Uma das maneias de tocar nesse talento oculto seria formar indivíduos que saibam como perguntar e reconheçam a importância desse ato. Segundo ela, os cursos de formação de professores trabalham a linguagem de forma "papagaiada". São feitas "perguntas intelectuais", aguardando-se respostas dentro de um universo conhecido de antemão, o que induz à reprodução das informações dos livros didáticos. O que Ivani propõe é que o professor faça "perguntas existenciais" para obter respostas inusitadas, inesperadas de seus alunos e, assim, trazer à tona seus talentos.
Em outras palavras, a ideia é falar de questões profundas de forma simples. Assim, o professor que desenvolver trabalhos interdisciplinares deverá "desembocar em coisas que eram impossíveis de abordar em educação há anos atrás, como o amor e a beleza", exemplifica. Segundo Ivani, na dimensão explorada pela interdisciplinaridade, não basta ser bom de conteúdo. É preciso ser belo. "Uma coisa bonita não precisa ser explicada, ela toca você no seu sentido maior, no sentido de existir".
Para Ivani, não existe interdisciplinaridade sem disciplinas. "É preciso haver um respeito à disciplina", disse. "O problema é que são feitos recortes nos conteúdos que não permitem compreender a sua essencialidade. Ela diz que até as tradicionais cartilhas são dignas de respeito, desde que sejam vistas como ferramentas e "usadas de maneira certa, no momento certo, para o aluno certo".