domingo, 7 de agosto de 2011

Como se trabalha com projetos.

É preciso, antes de tudo, não confundir atividade temática com projeto. Deve-se também negociar e conquistar os alunos para o tema do trabalho. Eles são sujeitos da aprendizagem. Os professores, seus parceiros.


"Projeto é um design, um esboço de algo que desejo atingir. Está sempre comprometido com ações, mas é algo aberto e flexível ao novo. A todo momento você pode rever a descrição inicialmente prevista para poder levar avante sua execução e reformulá-la de acordo com as necessidades e interesses dos sujeitos envolvidos, bem como da realidade enfrentada", define Maria Elizabeth de Almeida, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP, ex-professora de Matemática do ensino fundamental e médio, especializada, desde 1995, na capacitação de professores para o uso do computador em educação. Ela trata aqui de alguns de alguns conceitos essenciais para o trabalho por projetos, no qual se considera o aluno sujeito da aprendizagem - ativo e autônomo para criar, para construir e representar o conhecimento. Aponta competências desenvolvidas nesta prática, que tende à interdisciplinaridade. Mas avisa: "Se fizermos do projeto uma camisa-de-força para todas as atividades escolares, estaremos mais uma vez engessando a prática pedagógica.


"O professor precisa ter clareza de sua intencionalidade e também do que o aluno está se propondo a desenvolver. Sua intencionalidade sustenta esse vaivém que se realiza por meio de reflexão sobre os caminhos que estão sendo percorridos e pela comparação entre os resultados obtidos e os previstos inicialmente, de modo a identificar se há necessidade de replanejar e o que está sendo descoberto nese processo, que conceitos novos emergiram, etc".


Os conceitos de cidadania e democracia são inerentes ao trabalho com projetos, quer esteja-se utilizando ou não o computador. Não estamos falando em controle, mas que possam ajudar o aluno a aprender. Não dá para controlar o aluno quando ele é o sujeito da aprendizagem e tem liberdade para criar, representar e construir conhecimento. A ideia de controle é incompatível com a de aprendizagem por projetos, em que os alunos são sujeitos da aprendizagem e os professores são parceiros dos alunos.


Trabalhar com projetos tem sentido porque parte das questões de investigação. O aluno vai desenvolver estudos, pesquisar em diferentes fontes, selecionar e articular informações com conhecimentos que já possui para compreender melhor essas questões, tentar resolvê-las ou chegar a novas questões. Esse processo implica o desenvolvimento de competências para desenvolver a autonomia e a tomada de decisões, as quais são essências para atuação na sociedade atual, caracterizada por incertezas, verdades provisórias e mudanças abruptas.


Um projeto pode partir de uma questão relacionada com uma única área de conhecimento e, em seu desenvolvimento, ir se abrindo e articulando conceitos de outras áreas. Pode também ocorrer o inverso. Iniciar com uma questão abrangente e pouco a pouco ir afunilando em um determinado conceito.


Num mesmo projeto podem ser articulados vários recursos, da entrevista pela internet ao livro e TV. Posso entrevistar um especialista em situação real, mas se isso não for possível utilizo a internet para nossa interação. Um vídeo pode ser um excelente recurso em um dado momento, desde que seu uso esteja contextualizado na atividade. Da mesma forma, o computador é muito útil quando usado para pesquisa, comunicação e principalmente para representação do conhecimento e troca de informações.



Interdisciplinaridade: refletindo sobre algumas questões.


A interdisciplinaridade tem suas raízes na história da ciência moderna, produzida a partir do século XX. Foi nos meados da década de 60 que a interdisciplinaridade surgiu na França e na Itália, num momento em que havia uma evidente preocupação com o ensino mais sintonizado com as questões social, política e econômica, uma vez que os grande problemas da época não poderiam ser resolvidos por um única área do saber.
No Brasil, a interdisciplinaridade ficou evidenciada no final da década de 60, exercendo influência na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases de 1971. Sua presença foi sendo intensificada também nas propostas e práticas educacionais, com a nova LDB de 1996 e com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de 1998.
Em se tratando do sistema educacional, a organização dos conhecimentos escolares ainda funciona no sistema multidisciplinar. Somente quando ressurgiu a ideia de projetos na escola (década de 90) que se começou a discutir a interdisciplinaridae no âmbito da prática escolar. De fato, a metodologia de projeto potencializa a integração de diferentes áreas de conhecimento, assim como a integração de várias mídias e recursos, os quais permitem ao aluno expressar seu pensamento por meio de diferentes linguagens e formas de representação. Por essa razão, a pedagogia de projetos evidenciou seu caráter potencializador de práticas interdisciplinares.
O trabalho com projeto permite romper com as fronteiras disciplinares, favorecendo o estabelecimento de elos entre as diferentes áreas do conhecimento numa situação contextualizada de aprendizagem. No entanto, muitas vezes é atribuído valor para as práticas interdisciplinares, de tal maneira que a negar qualquer atividade disciplinar. Essa visão é equivocada, pois FAZENDA (1994) enfatiza que a interdisciplinaridae se dá sem que haja perda da identidade das disciplinas.
O conhecimento específico - disciplinar - oferece ao aluno a possibilidade de reconhecer e compreender as particularidades de um determinado conteúdo, e o conhecimento integrado - interdisciplinar - dá-lhe a possibilidade de estabelecer relações significativas entre conhecimentos. Ambos se realimentam e um não existe sem o outro.
Na interdisciplinaridade existe um tipo de interação entre as disciplinas ou áreas de conhecimento. Todavia, essa interação, conforme JAPIASSÚ (1976) explica, pode ocorrer em diferentes níveis de complexidade e, para distinguir esses níveis, foram criados os termos multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.
A multidisciplinaridade se caracteriza por uma ação simultanea envolvendo diferentes disciplinas em torno de um tema comum. Nesse caso, os conhecimentos disciplinares estão no mesmo nível hierárquico e se apresentam de forma estanques, não existe nenhuma relação e cooperação entre eles.
Na pluridisciplinaridade, existe algum tipo de interação entre os conhecimentos disciplinares, embora eles estejam no mesmo nível hierárquico. Há uma relação entre os domínios disciplinares indicando a existência de alguma cooperação entre eles.
A interdisciplinaridade representa um nível mais elevado de interação entre as disciplinas, um nível hirárquico superior onde procede a coordenação das ações disciplinares. Há portanto, uma organização e articulação voluntária coordenada das ações disciplinares orientadas por um interesse comum. Isto significa que na interdisicplinaridade há cooperação e diálogo entre os conhecimentos disciplinares.
A transdisciplinaridade não significa apenas que as disciplinas colaboram entre si, mas significa que existe um pensamento organizador que ultrapassa as próprias disciplinas e a interdisciplinaridade.
Existe um nível de integração que passa entre, além e através das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade. Na transdisciplinaridade ocorre uma espécie de integração de vários sistemas interdisciplinares num contexto mais amplo, gerando uma interpretação holística dos fatos e dos fenômenos.