sábado, 20 de agosto de 2011

Projetos.





Projeto é lançar-se para o futuro, com orientação. É a busca pelo que se pretende ser e conhecer. É a procura por respostas para uma interrogação que provoca interesse e incomoda.

Dentro deste contexto não cabe uma proposta fechada que seja imposta para os alunos. Eles precisam lançar-se para um futuro aberto e não criado.

O professor titular e diretor do Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da USP, Nilson José Machado, defende estas ideias e diz acreditar que o destino escolar dos estudantes está ligado à capacidade deles de estabelecer projetos e de criar interrogações, expectativas e interesses para lançarem-se sobre eles.


Lançar-se para o futuro

Segundo Machado, o fundo filosófico para o conceito de projetos vem de um pensador espanhol, Ortega y Gasset, que falava de um termo que pode ser entendido como lançar-se sempre para o futuro. "Ortega não usou a palavra projeto. Mas nesta vertente, entende-se por projeto um modo de agir do ser humano que define quem ele pretende ser e como se lançar em busca de metas. Quem não procura nada, quem não tem metas, morreu e esqueceu de ser avisado. O que vai acontecer, depende do sujeito", diz.

O professor afirma que os projetos podem ser considerados em diversas escalas. Por exemplo, num país, com a definição de seus rumos e metas, ou na escola, com a busca por se enraizar na comunidade. Mas no âmbito escolar, ele afirma que os projetos devem estar diretamente ligados ao conceito de cidadania. "A ideia de cidadania está articulada com a ideia de projeto, de metas pessoais ligadas a uma meta coletiva. Um trabalho em grupo dentro da sala de aula é um exercício de cidadania, uma vez que envolve pessoas com suas personalidades diferentes que, ao realizar um determinado projeto, buscam um resultado, uma meta comum".

Machado explica que John Dewey (1859 - 1952), teórico da educação, escreveu em livros como "Democracia e Educação" que pensava a escola como uma microssociedade e não só como uma preparação para o futuro. "O trabalho com projetos é um mocroexercício da vida em sociedade, pois define as metas comuns dos indivíduos", afirma o professor.

Para Machado, há uma banalização do uso da palavra projeto na escola.

"Todo trabalho se chama projeto. É como aqui na faculdade: todos precisam estar desenvolvendo projetos, mas nem tudo são realmente projetos. Alguns são trabalhos. Um curso de capacitação, por exemplo, é um trabalho, não um projeto. A essência do projeto é a incerteza de sua realização".


O professor defende que um projeto não pode ser previamente condenado ao fracasso, nem tão pouco ao sucesso, e não pode ter metas triviais nem impossíveis. "Metas assim não mobilizam. Num projeto deve sempre existir o risco, mas não a impossibilidade. A existência de um projeto está ligada à dúvida, ao estudo e a uma meta em aberto. Nos trabalhos desenvolvidos nas escolas, muitos não têm características de projeto. "O professor não pode definir sozinho, sem a participação e interesse dos alunos, qual será o tema de um projeto. Um indivíduo não pode ter um projeto ou uma meta pelo outro".